quarta-feira, 30 de abril de 2008

O PROBLEMA

Um monstro voador entrou-me pela janela. Eu estava debruçado sobre a mesa a fazer as contas. O monstro mexia-se atrás de mim enquanto eu acabava de fazer as contas. Não tive ocasião de olhar para ele, porque as contas absorviam toda a minha atenção. A minha mãe entrou e perguntou-me se eu queria um café; respondi-lhe que não tinha tempo, que tinha de acabar as contas sem falta. Tive vontade de lhe pedir que enxotasse o monstro e fechasse a janela, mas estava tão compenetrado nas contas que não disse nada. Além disso, não tenho bem a certeza se, quando a minha mãe entrou, o monstro já cá estava. Mas é provável que não, pois quando o monstro entrou, já eu tinha sobre a mesa uma xícara de café frio que a minha mãe teimara em trazer, mas que eu não bebera por falta de tempo.
E agora o tempo urge; tenho de acabar as contas que, desde que o monstro entrou, não se solucionam nem por nada. O algarismo que escrevia no momento em que ele entrou, foi o último.
Um monstro voador entrou-me pela janela há uns escassos mil anos. Não tive ainda tempo para o ver, mas ele aguarda-me, guloso e negro.
É um monstro que não consigo resolver.


Regina

6 comentários:

Graça Pires disse...

Às vezes as contas que fazemos à vida são o próprio monstro que não conseguimos resolver...
Um beijo.

Victor Oliveira Mateus disse...

Regina, a Graça acertou "em cheio",
mas é engraçado como um texto pequeno de que gostei (o seu), me fez lembrar, o que dizem ser, um grande romance: "o naked lunch" do William Burroughs...A vida é assim: gostos discutem-se!
Abraço

teresa g. disse...

Eu também ando a estudar um processo para matar o monstro, mas até agora não consegui nada.

(Ainda que mal pergunte, mudaste de sexo?;) )

Bjinhos

Magri disse...

Mil "escassos" anos a viver com um monstro? Deves ter para mais vários milhares...
Será que se lhe propusesses um relacionamento amigável, ele não te ajudaria a resolver essas tais contas?
Quando não os podes dominar... alia-te a eles...

Beijinhos e boa semana!

vieira calado disse...

Intrigante...
Um abraço

Anônimo disse...

gostei muito de ler, regina. creio que saberá resolver este problema. o monstro tem cinco mil anos, mas a regina tem mais dentro do seu coração. basta subtrair a diferença! um grande beijinho.