quinta-feira, 31 de julho de 2008

NÃO SOU DE CÁ





Desenho uma janela transparente
recorto-a com mil cuidados
e emolduro com ela metade do meu corpo

Ando assim pelas ruas
com os braços poisados no parapeito da janela
por isso nada do que acontece é comigo

Eu só estou à janela
e quase sempre
adormeço com a cabeça entre as mãos

Não posso testemunhar coisa nenhum
se houver um punhal na garganta da vitima
é provável que tenha sido o vento que o lançou

Não sei de ódios nem de intrigas
apenas me sacudo quando fico cheia de formigas



Desenho: Lurdes Breda
Poema: Regina

3 comentários:

teresa g. disse...

Tens que me ensinar a fazer isso. Precisava de sacudir umas formigas venenosas que andam a morder calcanhares...

Anônimo disse...

Bem, desenhaste a janela, mas esqueceste de pôr uma venda nos olhos e de tapar os ouvidos. Assim, queiras ou não, estás no palco da vida, e participas na peça em cena. Que remédio!...

Bjito

Graça Pires disse...

Um poema cheio de ironia e humor. Gostei muito. Um beijo Regina.